domingo, 12 de fevereiro de 2012

Minhas vontades são as palavras



Minhas vontades são as palavras. Já que não posso, preciso pintá-las. Vou contar-te que o vermelho na minha boca não é puro milagre. Basta que se diga Eu tinha as faces ruborescidas e estava só. Entende-se.
Muito me parece que há pessoas feitas da mesma matéria com que se fazem os sonhos. Se há pessoas adoecidas da doença da palavra presa, aquela que é feita de sonho precisa salvar.
Sofre-se de calores absurdos nesta terra. Vejo o mar da minha janela. Suor e sal.
A deusa verte uma única gota de âmbar para duas bocas que não se beijam. Mas amanhã é domingo, e segunda ninguém saberá.
Minhas vontades são as palavras. Permaneço estupefata pela intensa verdade deste momento. Uma Vênus, muito calma Vênus, mora dentro de mim. Ela tem safiras no umbigo e um seio que freme de tanta alma. Não duvido que entre os cabelos escondem-se efemérides olorosas (como frutos pulsantes). Esta Vênus estava a dançar de vestido liberto e florido, e de súbito...
Aquiesce, coração! Não desesperes.
Minhas vontades são as palavras
aqui postas.
Meu branco sangue, palavra derretida, que é dor e que escorre.
Já que não posso, preciso pintá-las.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Ângela Pralini

Os poemas
que me estão a escapulir
são tranquilos
e têm olhos perversos;
Dez anéis de agonia

São borras de sangue,
Meus coágulos de culpa...

Os poemas que nunca farei
são as provas indeléveis
de minha psicopatia.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Os Bichos














Não se pode sentar à mesa de bar com os bichos.
Os bichos não são irônicos
Não são ritualísticos

Os bichos andam pelados
Os bichos são políticos
Os bichos não guardam coisas
Os bichos são perfeitos
Os bichos são princípios

Não submetarás os bichos
A loucas delongas humanas.
Os bichos nos falam com os olhos.
A palavra mansa dos bichos
jamais sustentar-nos-á

Aprenda a quietude dos bichos.
Eles têm apenas a calma tácita,
A vasta calma tácita dos bichos

Quando muito, nos lambem feridas
Afagam-nos as mãos
Se deitam e
dormem
alegres.

Peço-te encarecida,
Não prefira-os sempre
para que não cogitem autismo.

Lembres!
Apesar daqueles olhos melódicos,
os bichos nos amam como bichos.
Não macules a asa da borboleta,
Ela nunca compreenderá.

Os bichos ainda são bichos.

Humildes e fáceis, nos são maiores
Não têm orgulho de seus polegares
Eles têm apenas a calma tácita,
A vasta calma tácita dos bichos