É um caminho árduo esse de voltar para si mesma, sempre e sempre. E inadiável, na mesma medida. Preciso estar comigo e preencher-me de mim. Preciso ser-me compassiva e justa, preciso me adorar e me respeitar. Para isso, às vezes saio de mim e me observo, por que me comportei em desacordo com aquilo que eu mesma decidi? Por que me deixei desprotegida, entregando vulnerabilidade a quem claramente não merecia? Por que eu ofereci o pescoço para a frieza da lâmina destes homens? O que me fez criatura tão incauta?
E, como um princípio de resposta, acende-se no meu peito o desejo voraz de ser amada. Por que o amor me faz existir. E eu vivi longos anos em escassez. Ser vista, ser ouvida, ser enaltecida, ser cuidada, ser acolhida para então sentir o deleite único de ser amada. Mas o outro não me pode amar se do outro depender a minha existência. O amor não pode ser a total recusa de si mesmo. Então desloco o amor desse lugar, removo, recrio, ressignifico. Então eu me vejo, e com olhos doces, eu me ouço, e com ouvidos mansos, eu me enalteço e cresço, árvore imponente, eu-mãe, olhando no espelho de dentro, cuido de mim-criança, finalmente posso cessar essa busca desesperada. Eu me amo e existo. Sou a deusa do meu mundo. Aqui recomeço meus pequenos grandiosos milagres, amar e mudar.