segunda-feira, 29 de agosto de 2016

E agora, Dilma?

E agora, Dilma?
O sonho acabou
O riso parou
Democracia ruíu
Justiça estancou

E agora, Dilma?
E agora, mulher?
Você que tem nome
mas se alia a outros
Você que faz certo
mas erra na trave

E agora, Dilma?

Está sem apoio
Está sem promessa
Já não pode temer
Calar já não pode
Renúncia, jamais
O senado esfriou
O tempo fechou
Mas o Lula veio
O Chico veio
Não veio a liberdade
E agora, Dilma?

Sua luta indelével
Sua garra, sua bicicleta
Sua resiliência
Seu anjo esbelto
Sua perda - e agora?

Se você dançasse
Se você corresse
Se você revidasse
o golpe iminente
Se você recuasse
Se você cansasse
Se você morresse
Mas você não morre
Você é dura, mulher!

Sozinha no salão
qual presa rendida
sem crime, sem pressa,
sem culpa, altiva
Você marcha, Dilma!
Dilma, eu também


quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Comecei a extrapolar os sentidos da perseverança
Ando a ver meus amigos que agora distantes
nos rostos das pessoas que passam
Oh me desculpe pensei que era um nome que eu conheço
A pessoa que sequer me viu olha-me com o susto de nascer
É que meus amigos estão raros


Moço, você não sabe que a saudade só é neste país?
Não suporto mais que vejam minha loucura trocada
Não, não. Não é esta a minha loucura. É outra
O homem vai correndo pelo resto de rua

Os meus amigos riem comigo de quebrar os ossos nos meus sonhos
Estou sentindo uma coisa redundante,
Por favor, me liguem




Para Nina, Neldo, Nádia, Joana e Mari


O adulto

O ser adulto sofre de profunda resignação
Este - cujo tempo tem-lhe transpassado o corpo -
passa a carregar um sentido
nunca antes experimentado
nem na mais remota infância
a infância da infância da infância
A palavra acariciada da idade primeira
não alcança.
Falo da fome
O ser adulto sofre de profunda fome de existência
Não sabe de si,
nem da substância que circunda suas vértebras
E esta grande fome de ser sem sabê-lo
remói suas montanhas
Ser adulto é talvez um tiro no escuro
Uma casa repleta de coisas simples mas preocupadas
Uma casa sozinha no topo do penhasco
Um cachorro tão velho que perdeu a alegria
Uma coisa sem princípio nem encerramento
O ponto do meio das reticências