segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Lilás ou Carta para Saulo

Acho que você tem direito de saber. Talvez-talvez tenha sido a fotografia de efeito sépia. Hoje você teceu a minha manhã de sonhos (estes de tantas almas povoados). Você deixara os cabelos por cortar, os cachos descacheados, você tinha um lume de pranto nos olhos, envelhecera, eu via um sol morno na pele do seu rosto, e nenhum colorido, não. Bastou para partir minha surpresa. Posta em meus olhos uma compaixão em tons lilases. Ô, fraterno poeta, que ocorrera que nos desola? Que nos talvez aflige? E percorridos meus dedos nuns seus cabelos gris, te refiz a pergunta. E tudo veio preencher-me em forma de densa melancolia, você nenhuma palavra disse, e me olhou de uma tristeza tranquila. Assim ficamos os dois, brandos num mundo imenso que, se nos está prestes a engolir, nos engolirá (estamos a aprender a serenidade dos anjos), no nosso de dentro repousa uma neblina que pouco a pouco se esvai nos poemas. Se pudéssemos ficar avessos, tanta beleza chegaria a Sara, e talvez se acabasse o nosso enigma de cada um, mas isso é contrário às leis da natureza. Como será duro compreender que a nossa - só a nossa - lágrima semeia os grãos secos da terra do mundo inteiro.
E talvez eu lhe tenha dito ao coração do ouvido Doce cúmplice merencório, a poesia nos irmanou.