sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Porque o mais saboroso dos frutos
Se encontra no mais alto dos ramos?
Porque não posso provar deste desfruto?
Diga-me! Porque tanto te amo?

Ellen Joyce
05/12/2005

Tempos pueris...

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Sempre almejei um homem a salvo de qualquer perfeição. Traçado com a virilidade “segura” de quem ainda amadurece em fruto viçoso, preso firmemente no mais alto dos galhos. Pra que crescesse no meu crescer...
Um homem que não se dispusesse a construir pedestais e atuar falsas regalias só para despachar a ânsia de pisar em terras inexploradas, sentir dum almíscar indecifrável.
Um homem que não enaltecesse o formato do corpo, mas encontrasse nos sentidos a passagem para o ilimitado universo dos prazeres, uma resposta natural à sua condição humana. Concedendo-me presença no limiar das descobertas.
Um homem que, assim por dizer, não me faltasse com a lealdade; e que não incrustasse covardias, mesmo natas, em seus pêlos de animal sagaz. Que permitisse desfacelar-me de crenças numa fidelidade mortal, mas sendo um homem, não um lobo. Que se cansando desta “presa” elucidasse os porquês da mudança de foco da “caçada”.
Um homem que ao menos lutasse para que não nos amordaçássemos pela hipocrisia, quando as palavras nos fugissem deixando rastros de ironia nas escassas discussões.
Por se imaginar assim, um homem insaciável de mim, que não buscasse deleites frenéticos de concubina, mas se valesse no naturalismo de uma mulher apaixonada; e nem mesmo realizasse minúcias num instrumento que não possui tal serventia. Que se alimentasse mais de minha alma...
Um homem que não se tomasse de espanto à exposição de alguns segredos ufânicos que habitam os labirintos de minha mente. Que me deixasse ser parte de si, que fosse uma parte sequer, mas sendo essencialmente parte incólume.
Um homem que reduzisse a átomos minhas ilusões a respeito dos homens...
Que permitisse haver entrega mútua, sem omissões e meias verdades.
Que conservasse virtudes próprias (sem que possa mais idealizar quais) num coração lapidado e sereno, disposto a amar incansavelmente e semear para além da nossa, já unida, matéria um amor ainda juvenil.
Um homem em quem eu pudesse descansar nos olhos ao encontrar irrefutáveis renúncias a toda e qualquer perfídia; que a imensidão do espírito transladasse meus conceitos e fizesse revigorar um sonho perdido.
E me apaziguasse a busca de uma única razão...


Ellen Joyce
02/11/07

domingo, 28 de outubro de 2007


Não desgarramo-nos do nosso impávido colosso! Nossos solos férteis hão de recusar as germinações da discórdia imposta pela herança histórica, aparentemente inquebrantável.

Este grande circo, meticulosamente armado, não redime a rebeldia dos filhos deste solo. Mesmo que decorram os mais inacreditáveis espetáculos desta terra, onde os mestres declamam discursos mascarados de liberalismo, num disfarce patético de grandes transformadores. Alguns dependurados em promessas inatingíveis, outros banhados de um populismo descarado. Promulgando o destino dos pobres, acumulando dólares em seus vestuários e bebendo o sangue do “respeitável público” em taças de cristal importadas. E claro, apoiados muitas vezes pelos perigosíssimos “reclames do plim-plim”.

Que adentrem no picadeiro os ilusionistas do direito, as marionetes da imprensa e os palhaços do senado, em artimanhas miraculosas, pois são milhões de corpos crestados pela labuta, que aqui suam por um pedaço de pão, ardidos pelo pesar do sol destes tristes trópicos. São corações sofridos verdes e amarelos e vermelhos e pretos e brancos e pardos e mulatos. É sangue que corre humilde em veias que a Deus pertence. Uma terra fecunda, que desperta a ambição dos maiores novos imperialistas. Mãe gentil que chora ao perder tuas crias para a seca e para a fome quando vê teu seio petrificado de leite expulsando-as para os infortúnios da vida nômade de retirante. Mãe que clama ao ver a miséria desumanizá-las e a escravidão torná-las mais ínfimas que insetos. Mãe que grita ao ver muitas das suas crias roubarem para evitar que a dor da desgraça tome seus lares por inteiro. E une todos no sentimento impune ao assistir o crânio de uma criança se despedaçar pelo asfalto de uma “cidade maravilhosa”. Uma mãe que alimenta esperança pra que não se morra de consternação, mas que não permite que o nacionalismo exacerbado invalide as mentes dos filhos restantes.

Tanta desigualdade paira por sobre os grãos desta terra, causando lágrimas de humilhação nos mais fracos. Há faces cicatrizadas pela iniqüidade e cabeças infectadas de alienação. Façamos nossa r’evolução! Não desacreditemos no futuro deste sonho intenso, não deixemos apagar-se esse já ofuscado raio vívido, porque de amor e de esperança esta terra cresce...

O sol da liberdade vai brilhar no seu desta pátria... amada... Brasil

Ellen Joyce

28/10/07

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Ocorreu-me uma languidez insólita nestas tardes efervescentes, mas creio que não foi por causa de minha estrela de vida reluzente, foi meu carecer, foi minha busca recusando-se a cessar, foi meu presságio concretizando-se tristemente, foi a aparição das conclusões mal-vindas.
Porque meu peito não se fecha, não se protege? Mantém cicatrizes ou não permite ferir-se? E essa entrega inconsciente, banhada numa farsa de maior cuidado provenientes das outras vivências? E esse falso equilíbrio?
Meu espelho tem o rosto vendado e uma atadura, nela não se pode distinguir a quem pertence o sangue seco. Mas no alto, flores de laranjeira pendem muito alvas, dançando entre os fios ao vento brando, trazem a brisa mensageira e gotículas de saliva, é a anunciação esboçada nos hinos invisíveis, estes hinos saúdam um forasteiro de outro reino, o forasteiro tem sua imagem incompleta por trás da moça da guirlanda, perplexa no espelho. Ele tem voz macia e mãos graves, mas não se pode ver mais nada...
Outro dia onde as vontades se anulam em meio ao alvoroço das indecisões...

Ellen Joyce
21/10/07

domingo, 14 de outubro de 2007

Conto sem fim

A vegetação era perene. Troncos muito esguios, cuja copa não se avistava, folhas espessas e de um verde escuro fascinante. Algumas já mortas, se despedaçando num tremelicar quebradiço e estimulante embaixo dos pés. Mata densa, apenas uma trilha no meio da selva úmida, salpicada dos raios de sol que cortavam a folhagem.
O barco já repousado na margem. A imensidão das águas amazônicas. Numa canoa indígena cheirando a madeira antiga. Quantas horas mais dentro do silêncio freático não se pode dizer. Repousamos o olhar sobre as árvores aparentemente desabitadas, depois o céu num azul-infinito, espetáculo de pássaros que flutuavam num vai-vem dançante. Explosão de natureza.
Desembarcamos tranqüilos no Céu do Mapiá. Hora de pisar em terra sagrada...



domingo, 7 de outubro de 2007

Saudade


Como fome
Não se apieda
E não se estanca
Até a chegada do ensejo
Que ofegante abranda
E mortifica este indefinível...
SAUDADE
Sem significado
E pesada de tanto sentido
Alimenta esperança
com a maior urgência semântica dos universos


Ellen Joyce
Outubro/2007

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

És fonte de palavra inebriante
Sorver-te do cálice um ósculo fortifica-me
Surgiste no vão de tempos enervantes
De um acaso, engano, proveito e persistência
Sim! És petulante!

Quão doces se tornam bizarrices
A lástima dissolve-se nos risos
És defesa, escape, grande espírito
Como que para enobrecer-me
E alimentar minha nova forma
Teu timbre ecoa se ativo os sentidos
Pois a aurora de olhos paulistanos
Já se fez companheira de meus pensamentos

Laçaste-me outrora, com teus versos
Minha armadura fragmentou-se a pó
Cada encontro redime o distante
Posto que tua presença é acréscimo

Tens áurea que irradia evolução
Carregas mãos esculpidas com amparo
Onde guardo meus périplos imaginários
E desconheço o que chamam solidão

Quero jornada chamuscada com teu brilho
Em coração, fincado, sem mais alarde
Aqui se fez forte
Em ti se me guardes
Transcenderá vida e luz
Em união de partes inigualáveis

Fizeste morada em infinitos sonhos
Ao iluminares egos sombrios
Assim conservo-te
Que não se percas
Me olhes!
Que dentro destes lânguidos olhos
Sou mais que almejara ser
Infindáveis existências imperfeitas
Alastre-se sentimento de mundo
Cantes...
Libertes...
Inundes minh’alma de Você

Ellen Joyce
26/09/07

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Nunca vi alguém assim.

Ouviu discordando e sorrindo por dentro. Guardou só para momentos em que vangloriar-se é necessário. Nos dias em que ver-se maior e fizer bico de reprovação, lembrar-se-á... Que se avolume silhueta! Que importância há? Ela é muito mais que carboidratos, lipídios e proteínas. Mais que reclusão e interrogações.

É transição, raridade, pensamento, raciocínio, discernimento, poder...

Direciona atenção ao acaso, mesmo indesejada...

Ela ainda decepa-se de falta de cuidado, ingenuidade que custa a ir-se.

Mas é o que a conforta nos dias cabisbaixos. A que circunstância se deve a repreensão disso que tantos denotam pecado? Ela restringe-se a saber sem mencionar? Dizer que traz encantamento é desfacelar a atração alheia? Pois bem, ela somente registra. E quando chover sem que haja descanso, a palavra virá secar-lhe o ego. Há de tornar-se límpida outra vez, porque os gracejos não vieram em vão, porque a equação reage em equilíbrio. Ela fez a harmonia reinante entre brechas e pontos marcados. Existe personalidade (e não mais impersonalidade) balanceada. Os gestos estão inundados de magnetismo, isso é motivo de dias de graça. Rir só, sem que haja culpa. O antigo... O que está... O por vir... Ela ri.

É uma fraqueza, por enquanto, perdoável. Porque não se agarrar num estopim pra alegria, mesmo que provisória? Pois se pensares por instantes apenas, perceberás. Pertencemos à mesma busca incessante de aprovação. Quase que sôfregos. Causa cócegas essa sensação de chegada. São teus méritos, Foste tu! Ela ri.

São doces recordações. Um jardim floresceu a cada passo avançado. Os seres brotando pra vê-la passar. Olhos recém-nascidos banhados de intenções afetuosas. É um bem vê-la sorrir; e nesta cor de tempestade perder-se pois é atrativo e irresistível.

Que sabor tem esta certa liberdade infundada...

Ela ri...

Ellen Joyce

13/09/07

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

...Queres abocanhar um fruto
Mas não vês o sumo há de adstringir-lhe a boca
Tu forças o desabrochar de uma rosa
Só porque lhe parece um tanto tentadora?
Apenas rogo-te que não queiras sentir deste âmbar
Se não forem puras as tuas orações
Te lembres que pétalas tais estão esmuiçadas
Como que resto de alimento a leões...

Ellen Joyce
04/06/07
O amor não é um crime qualquer
É um delito inevitável que cometem as almas imperfeitas
Aos seres amados e aos amadores, não haveria vida nem flores sem que enfrentassem, ao menos uma vez, a doce sentença de ser condenado
A supérflua dor de ser atingido
E o abraço do alívio de ser amado
Amor prende em cela que se fez abrigo
Onde descansa recôndita a infinitude dos julgados...

Em parceria com Mykelle Maya
(ainda incompleto)

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Texto rasgado

, porque foi essa forma gritante que encontrei pra desdizer o que eu quero que você guarde. Assim risonha, amedrontada, triste, feliz e de coração saltitante. Deixar transparecer só a paz, aquela paz sem fórmula mágica que eu anseio por lhe entregar, a paz contida em tudo de mim que já é seu, mas que você ainda não sabe. Ou sabe, sempre soube, e quer deixar-me de novo o enigma.

Quis esconder dos outros, e fiz, e apaguei, e a mão desobedeceu, deixei só pra mim. Mais uma fraude onde me apoiar; fazer-me de forte.

É assim que ando por estes últimos dias, acesa só para saber de ti. E pensar numa voz incognoscível, num toque esboçado por instantes tão vagos. Uma força irreconhecível de tentar desprender o que já me tornei há tanto. Suspensa num ideal, numa utopia que preencheu meus vazios, agarrada na espera de um dia, o dia em que irei queimar sob a chuva rala. Há dias procuro na janela sinais desses bons tempos, mas o bom tempo insiste em enganar-me, não me deixa acreditar que ele existe. A água desvencilha-se do meu pedacinho de sertão sedento. E nunca chove...

Já não sei mais que novo universo fantástico materializou-se ao redor. Não sei se fui, se ainda sou, se serei, do presente. Eu sei é do amor, porque este infinda meu ser, mora comigo, me aquece o lamento, não deixa que eu morra. Minha incrível percepção pra essa confusa presença, eis que renasce o amor em manjedoura de ilusão. Vem assim tão desvairadamente que não se recorda de lavar-me os olhos, deixando-os apenas marejados, traiu-me outra vez. E não pude ver, (que) foi o amor...

Essa forma encontrei pra oprimir meu temor. Quis ocultar-me através de frases melífluas. Só pra desviar seu senso, tracejar minha imperfeição muitas e muitas vezes até que se tornasse imperceptível. Mergulhar no desejo de que você me ame terrivelmente, como que para desarmar toda resistência friável de que me vesti. Eu sei que só posso ser de quem me for leal. Assim mentalizo-te, sempre leal a toda palavra que lhe foi ofertada. Talvez o ame como nunca a ninguém, ou talvez ame tristemente uma idealização. Não quero que seja esse o fim, ou quem sabe esse fim seja o nosso começo.

p.s.: A vírgula inicial é proposital!

p.s.2: Depois de muita relutância publicado enfim!

p.s.3: Adotar ótica sensível!

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Se libertar

Opera-se uma perigosíssima e radical inversão de valores. A lente capaz de transformar a mais abjeta prisão no paraíso da liberdade, a prática mais asquerosa em paradigma de honradez, (...) tal lente, cuja substância é a ideologia destilada pelo capital financeiro, faz desaparecer o ser humano, substituído por uma sombra de si próprio, uma caricatura, uma risível miragem. Como se reduz a uma miragem aquilo que hoje se denomina "democracia".

José Arbex


Assim manteve-se aberta até que a releitura se fizesse gravada. Assim remodelarei meus conceitos básicos. Sugando todas as possibilidades, permitindo surgir a versatilidade necessária para minha melhor reconstrução. Como ao anexar novos elementos sobre o significado da palavra democracia. Desvinculando-me dos ideais um tanto fundamentalistas.
Essa é minha realidade (antes oculta). A esse modo de produção servirei, e meu baluarte será o conhecimento. Assim mesmo de casulo precocemente rasgado, não se entregar ao "triunfalismo ingênuo", e transformar, e persuadir, e evoluir, se libertar...

Ellen Joyce
24/08/07

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Do verde ao concreto

Aqui não tem poça pra pisar
Não tem árvore de casca dourada
Do verde ao concreto
Só muro, asco, teto
Não tem pés argênteos
Só tapetes, ferro putrefato
Não tem bicho
Pêlo que afague mão
De mãe nem colo, só chão
Não tem pra dedo segurar cruzado
Que aperte boca
Que belisque bocado
Não tem...
Aqui não se grita
Engole-se voz
Não se pode, não se pode
O canto do vento perde-se no escarcéu
As manhãs nos vestem de sal
Um pedaço de mundo não mais que trivial
Não existem olhos vizinhos
Cuidando do que se tem
E não se tem...
Aqui não tem sorriso familiar
Só indiferença disfarçada
O tempo escapa pela fechadura
Se envilece, mas se imprescinde
Enlameia-se de hipocrisia
Arranca as páginas dos livros
Volta amiúde cheio de tudo
E o tudo pendura-se nas costas
E faz-se ficar
Aqui meus rascunhos se tecem
pelas fibras de folhas amareladas
Caídas de um tronco enegrecido
E as palavras mergulham no obscuro
Para então desaguar num rio de esquecimento
Eis o novo lar

Ellen Joyce
02/08/07

terça-feira, 21 de agosto de 2007

...

Do alto desses tão longínquos dias vividos, em meio ao deslumbramento de tantas dúvidas caóticas, encontrei-me então, vasta de novos olhares e conceitos, com a sensibilidade aguçada. Cada amanhecer enche-me de novas reflexões. Mas ainda há resquícios da áurea pobre que hoje cresce inesperadamente.

[Esmiuçaram-me os versos, irromperam-me a fluidez].

Como vezes tantas outras, a protagonista de minha ruminação é a (má) essência humana. Quão difícil se tornou viver! Quão extensa é a dialética universal! De quantos escárnios vivem os miseráveis!

Uma densa atmosfera de mistérios corveja sobre meus pensamentos. Desta celulose tracejada de carbono sólido nascerão meus anseios saciados. Porque entre tantas eras e galáxias...? Explicai-me!

‘Não existem razões para estarmos vivos, todo fantástico que via na perfeição das coisas naturais é mero fator conseqüente da nossa programação mental. ’ De que massa fétida encefálica surge tamanha insensatez? E que indagação leviana a minha!

Minha maior inquietação é saber de onde brotam tão perversos sentimentos humanos. Inaceito a hipótese da perfídia nata. Ou, para ser mais flexível, poder-se-ia dizer que na construção dos princípios primordiais do ser aprendemos a sufocar nossa crueldade, assim sendo, torna-se mais provável a origem da toda aversão ao bem, cravada na natureza de tantos mortais. Muitos talvez não tenham solidificado o caráter.

Quantas lágrimas ensangüentadas vertem de meu silêncio infantil! Que luta a que travei: Rabiscar alguns absurdos numa tarde revoltante. Quanto progresso nas batalhas pessoais “revolucionárias”!

Sinto a linha tênue que me separa da loucura.

E que questionamento imbecil!

De que adianta meu espírito estar fora de minhas limitações rotineiras, se nada mais sou que mais uma peça deste poço de iniqüidade? De que valem aspirações por transformar a esmagadora realidade se estou fincada no fundo dessa condição bestial? Somos metonimicamente ruins?

Não! Posso me perder nesta dor pujante por pertencer a tal imundície, mas minha ESSÊNCIA desperta-me a ternura de quem traz um coração esperançoso. De que viverão meus similares se me deixar adormecer na escuridão da desistência? Buscarei incansavelmente solos férteis onde possa germinar a fé de quem um dia ousou gritar pela esperança!

Ellen Joyce

15/08/07

...

Um emaranhado de fios reluzia dourado por cima do travesseiro. Uns olhos melancólicos, os lábios gretados. No rosto o resultado indubitável de quem agonizava em meio a uma ansiedade constante. De certo, era o cansaço que enfim a tomara. O cansaço dos ávidos, d’aqueles que anseiam por conformar a realidade a seu próprio ver, aqueles que ainda carregam uma dualidade seca e querem tragar o mundo com tamanha sofreguidão.

Os membros derramados misturando-se com as nuances do lençol, relutantes ao comando do corpo. Parecia-lhe que não mais se ergueria, que toda a pele fundia-se com as fibras do algodão macio do colchão. E pensava em tudo que a aguardava depois da mísera porta do quarto. A espessura tão fina quanto uma acha lhe transmitia a falsa idéia de proteção.

Os olhos agora vivos, cheios de pensamentos, buscavam forças na escuridão silenciosa que se incrustara em sua alma. A verdade era única e incontestável. Não sabia viver. Deixara-se envolver por aquela incomensurável agitação de ânimos, oscilando entre perguntas cujas respostas vislumbravam ao longe. E com esforço descomunal, porém vil tentou alcançá-las antes que esvaecessem, entretanto respostas não são palpáveis, por um instante pensou tê-las entre as mãos, mas de tão etéreas elas rapidamente se foram para seu mundo efêmero. Um mundo que ela desconhecia.

Um raio atravessou uma nesga no teto. Veio então o sol para afagar-lhe o rosto e amansar toda tempestade íntima. De súbito encheu-se de luz todo seu refúgio.

E o novo dia despertou-a de volta à vida...

Ellen Joyce

26/06/2007