quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Há um rasgo difícil de estancar na alma,
difícil como um quase impossível.
Essa ferida que dói em todo espaço,
tão dolorosa que, parece, não existe.

A alma vai sangrando tudo que antes havia.
Difícil estancar este rasgo, difícil alcançar e medir.
O espírito vai a triturar-se.
Um silêncio pesado guia a multidão
e suas flores brancas.
As pessoas hoje são tácitas.
A ausência tem palavras impossíveis de proferir.

Uma bala atravessou o coração de uma criança
(naquele segundo, o coração mais vivo em todo o universo)
Diga-me o que é preciso fazer!
É preciso correr à rua!
É preciso gritar! (A alma não é estanque)
É preciso implorar a deus!

Mas toda vez que a morte arranca uma flor de seus jardins,
deus tapa seus próprios ouvidos santos
a fim de que não enlouqueça.

Um anjo puro dorme nos céus
Perdoem-me, perdoem-me!
Não havia palavra que bastasse,
Não houvera nada a ser feito,
Não existe sequer um gesto.
Há apenas morte em toda e qualquer existência.