sábado, 23 de outubro de 2010

Sonhei que na minha cabeça havia crescido generosos fios alvos, eu era a copa de um ipê brilhante, exibia altiva a cabeleira de algodão a todos os meus parentes. Eu tinha rugas e os olhos capitulescos. A minha boca cerrada como que guardando o grande mistério do mundo. Eu era uma velha e andava feliz, os jovens beijavam as minhas mãos. No fim do dia eu sorria para as paredes: tenho grandes conhecimentos. Quando acordei, por sobressalto, uma enorme aflição se apossou de mim, eu era ainda um sonho, seus pedaços malucos aturdiam meus sentidos. Mas à porta de minha consciência uma fala arregalada jazia: és velha e não há riquezas, és velha e continuas falando à solidão.