quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Não preciso de ti para viver, amor

Não preciso de ti para viver, amor. Se tudo acaba, acabo eu, mas tomo meu pulso e continuo a respirar. Não te preciso, percebi hoje, como o cego permanece mesmo apagados seus dois faróis. Estive tão confusa com as recentes descobertas que quase viro louca e começo a comer lixo. (Quantas ideias desvirtuadas a humanidade nos reservou!) Mas ao fim de certas crises existe uma serenidade de caramujo.
Morrer de amor é bom num livro de Gabo ou no Hypeness. Uma poesia grandiosa é também feita de morte.
Também não era morte o que se deu no meu peito quando escolhi partir. Não essa morte cristã cheia de trevas. Nunca a morte de uma estrela, irruptiva e absoluta. Não preciso de ti assim como os gatos podem perder as patas. A incrível felicidade de saber-se inteira, de saber nenhuma precisança. É muito pouco o que verdadeiramente precisamos, e iremos descobrir.
Queimaram todas as fórmulas, no entanto, sinto um caminho muito único dentro de um bilhão de galáxias, que é esse de ser inteira com você. Estou deixando de ser líquida para abraçar as certezas. A certeza recriada. Esqueça os corpos que passaram pelo meu, corpos são poeira. É certo que somos sozinhos no universo, sozinhos de não caber uns nos outros, está aí a razão de procurar cobrir a fenda da solidão humana. O mito é a forma que tenho de suportar a vida. Pensar o nosso umbigo como um nó de separação é o que me salva.
Preciso apenas acreditar numa verdade que não esteja em ruínas. Preciso abandonar o modo maniqueísta em que me puseram. Irei transbordar do meu corpo, é fato. Há vezes em que já não sinto os pés. Minha vontade é sorrir dentro dos teus olhos ao me transformar. E sentir mil explosões que jamais serão morte crescendo irresolutas. E posso divagar sobre a palavra 'sempre' e ter uma firmeza sem par. Nunca mais me senti atordoada. Estou deixando de ser água para poder abraçar deus. A única morte possível será a morte das necessidades. 
Não preciso de ti para viver, amor. Apenas tenho a obrigação de destruir os românticos e não perdê-los. Podemos viver no meio das coisas todas recriadas. Numa fé que me redima de todo egoísmo que te fiz. O amor faz doer, mas não será dor puramente. Como íntima ordem de comando, tenho ainda aquela vontade de milagrosamente fazer uma pitanga viva dentro de mim que seja tua. Não te preciso para viver, te preciso para ser amor.