quinta-feira, 21 de abril de 2011

Personne


Creia, senhor! Isso é uma figura autoral. E tão distante está...
A realidade é como o brilho tardio das estrelas, uma poça esquálida que nem digno reflexo nos oferece.  Mire-se nestas águas pálidas, a sua quas'imagem é puro vento no deserto, ninguém vê e lá está, isto é realidade.

Esta menina, tão fraca e lesada, pirilampozinho vermelho, acha que se nasce para coisa que se diz Amor, tolo engano é tentar traduzir a imensa maldição dos seres, Amor... e pena em versejar, Açucena desgarrada, ridícula e néscia. (Ela não está sozinha, embora seja só)

Cresça para além das redondilhas, senhor! Meu corpo, apenas veste, minha palavra, lúdico artifício.
A pessoa ainda não há para que lhe possa dizer sobre.
Isso é uma figuração.
Creia, senhor!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Pirlimpimpim

Feliz daquele que acredita na esperança
Não sou triste nem alegre
Sou uma poetisa criança


Eu, aos 9 anos de idade

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Precisas voltar aos tempos ingênuos em que a literatura era pura emanação despretensiosa. Sem referências, sem hipocrisias, sem plumas e só pedras preciosas. Reverter o curso e voltar ao útero quente de mãe, onde não há pensamento e não há consciência, às rimas pobres que são despreocupadas, que não querem se ocupar de tocar âmagos e resistem silentes no baile monótono das palavras (embora cada uma delas tenha mil vestidos faceiros). Estas rimas, tuas amigas antigas, te estão saudosas e querem celebrar.
Pensas no tempo em que mal acabaras de aprender as letras e já achavas estar roubando poemas cecilianos, aquele ato bobo, jamais exclusivo, é tão cheio da terna invencionice infantil que as teorias o chamam hoje de intertextualidade. Eras brilhante e não sabias.
Precisas abandonar estes modos miméticos, nenhuma gente suporta mais sabê-los. Estás maçante, és uma pernóstica. A água se lhe escorre da peneira. A criança foge para longe. As tuas personagens entraram em greve. Respires.
A poesia nunca foi pedra, nem gota de bile, nem caule de alecrim, nem tule de seda ou nácar. Não exige aspas, foge dos asteriscos, se contorce de encontro às gramáticas. Ainda é pouco teu grau de desaprendimento. Em se treinando o desapego aristotélico uma vez por dia, há de se obter algum triunfo. Repasse teus mestres: loucos, crianças, putas, empregados domésticos, poetas. E não te embirres pela sensação de repetimento, originalidade é um conceito perdido, ela existe apenas sob a condição de não acreditares nela.
Por uma única última vez: poesia é todo o teu (i)material, as tuas portas todas abertas.
Por isso este claustro - precisas afastar a pilha de livros - este claustro pertence a ti, não a teus versos.


Os poemas têm direito à liberdade.
Não importa quem disse.