terça-feira, 16 de abril de 2019

Joana dark

Joana foi quem primeiro me ensinou
que o canto dos pássaros nem sempre quer dizer alguma coisa
Olhava e nada entendia
mas era tudo lindo de morrer
Ela sentenciou-me poeta

Joana tinha mania de cerrar os dentes
E conversar com pombas que não eram Deus
Como pode um cérebro
ser tão cheio de luzes?
Ela tinha seu jeito malévolo
que só é assim descrito
porque gostamos de proparoxítonas

Joana amava-me
Tenho ainda vivas as marcas no coração
Quando ela aqui recostou-se

Um dia, passou-lhe um cavalo de fogo à rua
Perdi-a para a noite
Minha amiga alcoólica

Seu cavalo pisou-me os óculos
Nada pude saber
Pedi perdão para o vento
Parva e desmiolada
Afinal, foram mesmo minhas mãos
que deixaram meus olhos na estrada.

Vai, Joana
Célere, impávida, máxima
Talvez nunca mais retorne.


Adeus, Juju