domingo, 28 de outubro de 2007


Não desgarramo-nos do nosso impávido colosso! Nossos solos férteis hão de recusar as germinações da discórdia imposta pela herança histórica, aparentemente inquebrantável.

Este grande circo, meticulosamente armado, não redime a rebeldia dos filhos deste solo. Mesmo que decorram os mais inacreditáveis espetáculos desta terra, onde os mestres declamam discursos mascarados de liberalismo, num disfarce patético de grandes transformadores. Alguns dependurados em promessas inatingíveis, outros banhados de um populismo descarado. Promulgando o destino dos pobres, acumulando dólares em seus vestuários e bebendo o sangue do “respeitável público” em taças de cristal importadas. E claro, apoiados muitas vezes pelos perigosíssimos “reclames do plim-plim”.

Que adentrem no picadeiro os ilusionistas do direito, as marionetes da imprensa e os palhaços do senado, em artimanhas miraculosas, pois são milhões de corpos crestados pela labuta, que aqui suam por um pedaço de pão, ardidos pelo pesar do sol destes tristes trópicos. São corações sofridos verdes e amarelos e vermelhos e pretos e brancos e pardos e mulatos. É sangue que corre humilde em veias que a Deus pertence. Uma terra fecunda, que desperta a ambição dos maiores novos imperialistas. Mãe gentil que chora ao perder tuas crias para a seca e para a fome quando vê teu seio petrificado de leite expulsando-as para os infortúnios da vida nômade de retirante. Mãe que clama ao ver a miséria desumanizá-las e a escravidão torná-las mais ínfimas que insetos. Mãe que grita ao ver muitas das suas crias roubarem para evitar que a dor da desgraça tome seus lares por inteiro. E une todos no sentimento impune ao assistir o crânio de uma criança se despedaçar pelo asfalto de uma “cidade maravilhosa”. Uma mãe que alimenta esperança pra que não se morra de consternação, mas que não permite que o nacionalismo exacerbado invalide as mentes dos filhos restantes.

Tanta desigualdade paira por sobre os grãos desta terra, causando lágrimas de humilhação nos mais fracos. Há faces cicatrizadas pela iniqüidade e cabeças infectadas de alienação. Façamos nossa r’evolução! Não desacreditemos no futuro deste sonho intenso, não deixemos apagar-se esse já ofuscado raio vívido, porque de amor e de esperança esta terra cresce...

O sol da liberdade vai brilhar no seu desta pátria... amada... Brasil

Ellen Joyce

28/10/07

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Ocorreu-me uma languidez insólita nestas tardes efervescentes, mas creio que não foi por causa de minha estrela de vida reluzente, foi meu carecer, foi minha busca recusando-se a cessar, foi meu presságio concretizando-se tristemente, foi a aparição das conclusões mal-vindas.
Porque meu peito não se fecha, não se protege? Mantém cicatrizes ou não permite ferir-se? E essa entrega inconsciente, banhada numa farsa de maior cuidado provenientes das outras vivências? E esse falso equilíbrio?
Meu espelho tem o rosto vendado e uma atadura, nela não se pode distinguir a quem pertence o sangue seco. Mas no alto, flores de laranjeira pendem muito alvas, dançando entre os fios ao vento brando, trazem a brisa mensageira e gotículas de saliva, é a anunciação esboçada nos hinos invisíveis, estes hinos saúdam um forasteiro de outro reino, o forasteiro tem sua imagem incompleta por trás da moça da guirlanda, perplexa no espelho. Ele tem voz macia e mãos graves, mas não se pode ver mais nada...
Outro dia onde as vontades se anulam em meio ao alvoroço das indecisões...

Ellen Joyce
21/10/07

domingo, 14 de outubro de 2007

Conto sem fim

A vegetação era perene. Troncos muito esguios, cuja copa não se avistava, folhas espessas e de um verde escuro fascinante. Algumas já mortas, se despedaçando num tremelicar quebradiço e estimulante embaixo dos pés. Mata densa, apenas uma trilha no meio da selva úmida, salpicada dos raios de sol que cortavam a folhagem.
O barco já repousado na margem. A imensidão das águas amazônicas. Numa canoa indígena cheirando a madeira antiga. Quantas horas mais dentro do silêncio freático não se pode dizer. Repousamos o olhar sobre as árvores aparentemente desabitadas, depois o céu num azul-infinito, espetáculo de pássaros que flutuavam num vai-vem dançante. Explosão de natureza.
Desembarcamos tranqüilos no Céu do Mapiá. Hora de pisar em terra sagrada...



domingo, 7 de outubro de 2007

Saudade


Como fome
Não se apieda
E não se estanca
Até a chegada do ensejo
Que ofegante abranda
E mortifica este indefinível...
SAUDADE
Sem significado
E pesada de tanto sentido
Alimenta esperança
com a maior urgência semântica dos universos


Ellen Joyce
Outubro/2007