segunda-feira, 20 de maio de 2013

Mãe

Hoje acordou um dia manso
Mãe me trouxe um vestido,
vestido de ficar dentro de casa,
branco de flor pintada.

Todo dia,
eu vou aprendendo
a apaziguar uma dor.

Eu me sentei junto d'ela
na mesa pequena da cozinha
- ali não cabe uma fome sequer -
E fui ajudar a fazer biscoito.

Todo dia, uma voz se cria
pr'eu saber dar corpo a ela.

Ali na cozinha
- templo e masmorra da família -
Eu vou conhecendo o que ela não diz.
Vou saber, um dia,
amar uma mãe que não me entende,
lavar a louça e guardar
pra que ela possa dormir feliz.
Fazer coisas sem nenhum sentido
pelo sentido de ter paz.
Vou compreender
profundamente
que meu silêncio
nutre uma culpa
que é só minha
e de niguém mais.
Que uma fúria, se torta,
não presta para fazer nada.

Vou anotar
certas preciosidades.
Que um biscoito,
para ser macio,
é primeiro domar os dragões
e depois pôr menos açúcar.

Um dia, eu alcanço
a velhice pueril
de minha mãe.

Pedir "bença"
todo dia,
sem esquecer
nem desprezar.
Saber que eu sou pequena perto dela.
Saber que o mundo é maior que eu.
Agradecer.

Todo dia
a gente aprende
a apaziguar uma dor.