domingo, 13 de agosto de 2017

Perdão por ter os olhos abertos demais
que me impedem de amar-te de um modo desmesurado
Havia um homem.
tinha três filhos
mas nunca pôde segurar seus bebês
por medo de lhes quebrar
O homem amava seus filhos
mas achava que tinha o direito de
não cuidar inteiramente deles

Havia um homem
tinha duas filhas
preocupava-se apenas em vender suas novilhas
para dar de comer às meninas
O homem amava suas filhas
mas elas ainda não sabiam
que "fruto de trabalho" era gesto de amor

Havia um homem
tinha uma filha
que gostava de se sentar à cabeceira da mesa
na hora do almoço e do jantar
O homem amava sua filha
mas ordenava-lhe que saísse de seu intransferível lugar

Havia um homem
tinha um filho
que cresceu e também foi homem
havia também uma filha
que cresceu e escolheu não ser

Havia um homem
e havia uma mãe
que lavava, cuidava, cozia
deitava, servia, ninava,
passava, entendia, limpava
e amava

Enquanto o homem seguia



Homens sem nenhuma importância

Rejeito a importância de homens muito importantes
Devemos sempre falar seus nomes
apertos de mão, abraços, palmas, copos d'água
Pois são melindrosos e infantis

Eles andam cansados
de não enxergar pessoas,
só cargos
E desaprendem a escrever
(no dia em que eu atingir a importância
que me privará de escrever minhas palavras
com as minhas próprias mãos,
terei, por certo, morrido)


Estes homens muito importantes
caminham sobre o suor e os ossos
de mulheres e homens sem nenhuma importância