segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Sempre almejei um homem a salvo de qualquer perfeição. Traçado com a virilidade “segura” de quem ainda amadurece em fruto viçoso, preso firmemente no mais alto dos galhos. Pra que crescesse no meu crescer...
Um homem que não se dispusesse a construir pedestais e atuar falsas regalias só para despachar a ânsia de pisar em terras inexploradas, sentir dum almíscar indecifrável.
Um homem que não enaltecesse o formato do corpo, mas encontrasse nos sentidos a passagem para o ilimitado universo dos prazeres, uma resposta natural à sua condição humana. Concedendo-me presença no limiar das descobertas.
Um homem que, assim por dizer, não me faltasse com a lealdade; e que não incrustasse covardias, mesmo natas, em seus pêlos de animal sagaz. Que permitisse desfacelar-me de crenças numa fidelidade mortal, mas sendo um homem, não um lobo. Que se cansando desta “presa” elucidasse os porquês da mudança de foco da “caçada”.
Um homem que ao menos lutasse para que não nos amordaçássemos pela hipocrisia, quando as palavras nos fugissem deixando rastros de ironia nas escassas discussões.
Por se imaginar assim, um homem insaciável de mim, que não buscasse deleites frenéticos de concubina, mas se valesse no naturalismo de uma mulher apaixonada; e nem mesmo realizasse minúcias num instrumento que não possui tal serventia. Que se alimentasse mais de minha alma...
Um homem que não se tomasse de espanto à exposição de alguns segredos ufânicos que habitam os labirintos de minha mente. Que me deixasse ser parte de si, que fosse uma parte sequer, mas sendo essencialmente parte incólume.
Um homem que reduzisse a átomos minhas ilusões a respeito dos homens...
Que permitisse haver entrega mútua, sem omissões e meias verdades.
Que conservasse virtudes próprias (sem que possa mais idealizar quais) num coração lapidado e sereno, disposto a amar incansavelmente e semear para além da nossa, já unida, matéria um amor ainda juvenil.
Um homem em quem eu pudesse descansar nos olhos ao encontrar irrefutáveis renúncias a toda e qualquer perfídia; que a imensidão do espírito transladasse meus conceitos e fizesse revigorar um sonho perdido.
E me apaziguasse a busca de uma única razão...


Ellen Joyce
02/11/07