sábado, 29 de outubro de 2011

Você diz que
eu não deveria ter feito
minha tatuagem
Mas a minha tatuagem
é de dezoito anos
É kitsch mas é simbólica
Que grande bobagem é,
não acha?
Grande bobagem minha
é usar meu corpo
(que nem é meu)
Minha tatuagem é boba
e tem traços finos
muito bem feitos
e é colorida.
Você disse que eu não
deveria tê-la.
Eu acho que eu
deveria ter preenchido
minhas costas
com um desenho psicodélico
Mas eu tinha só 18 anos.

sábado, 22 de outubro de 2011

Meditação sobre o ofício de não-criar


Sabe. Tenho pensado que eu não presto  para isso de escrever. Veja bem. Primeiro de tudo: sou mulher. Segundo de tudo: sou mulher e otimista. Não tive experiências grotescas nem tanto desoladoras. Não inauguro nenhum estilo nítido. Não faço nenhum registro histórico.
Nem crítica, nem filosófica, nem dantesca, nem intimista o suficiente ou quase nada. Não penso em suicidar-me. Não acredito que não haja romance. Não sou melancólica, nem desencantada em alto grau. Não aprecio o uso de drogas. Costumo pentear o cabelo. Não que eu não seja aluada, sobretudo diante de coisas imprescindíveis, mas todos os meus vocativos têm por nome Amor. Sou feliz em demasia. A latente falta de sentido não me é angustiante. Tudo na vida é muito besta. Além do mais, sou monogâmica. Além do mais - além do mais, não sei intitular as coisas que me saem mais bonitas e meu nome é tão feio que nenhuma travesti quereria adotá-lo.
Sabe. Eu presto demais para me dar a escrever. Aí você veja, pra que mais meia dúzia de livro feito de sem-gracice?
Você quer saber o porquê? Você quer mesmo saber porque diabos não se escreve e pronto e cabou?
Ora, porque eu leio.
E lacrimejar piegas é comigo mesmo.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

"Essa necessidade de fluir, ah, jamais, jamais parar de fluir. Se parar essa fonte que em cada um de nós existe é horrível. A fonte é de mistérios, mistérios escondidos e se parar é porque vem a morte."

Clarice (Um sopro de vida)


Há uma certeza que sobrevive na porta dos fundos de minha cabeça. E penso guardar este pássaro de alegria num campo para refugiados.
Ouço... ouço pequeninas vezes meu ilustre sobrevivente, tem a vozinha minguada: "A poesia nunca morre dentro da gente."
Diga-me... diga-me com toda sua força: isso é mesmo verdade?

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Isto é uma crise, Osvaldo!

Tenho obrigado-me (sem nenhuma veemência) a praticar exercícios de escrita e literatura. Não gostaria de ser mais um metapoema na vasta inscrição do contemporâneo (blár), mas tenho pernas que não sei para que servem, íntimo comando, íntimo comando. Quase nenhuma gente poderá compreender uma crise nassariana. Verdadeiras obsessões nunca serão compreendidas. Eu escrevo. É como um hino. Eu digo: eu tenho história. Isso é belíssimo, subversivamente belíssimo e leviano. Quem acaso disse-lhe: você escreve? Você responde: Deus! Uma crise é uma crise é uma crise. Tem a palavra oscilante guardada dentro. A minha linda professora disse. A minha linda professora possui importantes critérios que eu não estou certa se foram inapelavelmente aplicados. Tenho 22 anos e 22 poemas publicáveis. Você toca-me a alma no mais fundo que a minha alma tem. E eu não digo que há alma rasa como quê. Tenho praticado bastantes desperdícios, como pensar sobre o próprio pensamento. Precisa-se de um novo vício para dar adeus. Preciso parir meu vigésimo terceiro poema. Eu escrevo como quem dorme.

domingo, 2 de outubro de 2011

Estive pensando em você desde os meus 18 anos de idade.

Estive pensando em você
desde os meus 18 anos de idade.
Estive pensando nestas últimas
horas sobre como flores emurchecidas
trazem uma profundíssima tristeza.
Bobagem.
Estou pensando agora que
você aprisionou todos os meus versos.
Eu não me importaria se você
os engolisse todos vivos
Desde que
comemo-nus pelos restos da vida.

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(Óh!) Penso que matei aquelas flores
de inanição.
Pus-me muito triste a
pensar
que elas choraram
a morte umas das outras.
Penso que perdi
meu ouvido mágico.

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Se todas as flores do mundo
forem aniquiladas,
posso perfeitamente
inscrever nosso amor nas pedras.