domingo, 9 de julho de 2023

 Não é que eu possa viver sozinha, isso já foi exaustivamente repetido, esse discurso já deveria estar superado, somos sozinhas, precisamos aprender a nos bastar, precisamos ler Complexo de Cinderela e entender que não existe salvação de príncipe nenhum, somos odiadas, precisamos do afastamento que regenere nosso cérebro adoecido, precisamos construir novas pontes, novas conexões que progressivamente irão nos erguer de toda a lama. Precisamos aprender a pronunciar a palavra abuso e apontá-lo, mesmo que a violência aumente, e certamente ela irá. Precisamos aprender o que é amor bonito, amor saudável, amor que floresce. Por isso nos cercamos de mulheres que abraçam as nossas dores mais feias. Elas não desistem, não nos julgam, elas são nossos pilares fundamentais, elas nos ajudam a voltar pra nós mesmas. Já sabemos que podemos viver a solidão, porque na verdade estamos juntas no lado de cá do abismo. Não é que eu possa, isso já está mais que provado. É que eu quero. Eu quero viver sozinha. E o querer de uma mulher finalmente livre tem muita força. O querer definitivo de uma mulher arrancando o véu que encobre a realidade assusta. Eu quero viver, não ter medo. Eu quero me curar e esse é o remédio. 

Eu sou imensa. Homem nenhum me apequena. Eu sou floresta. Homem nenhum me habita ou devasta. Homem nenhum me tira o brilho, eu sou estrela alta. 

Onde não cabemos, não forçamos nenhum encaixe, não mais. Eu não sei apenas aquilo que não quero, porque agora eu sei quem eu sou.