domingo, 29 de abril de 2012

Cariño

Quando tiveres ainda mais sonhos cravados na pele, amarei teu cenho, amarei tuas roupas, amarei ler cálida a palavra amornaremos. Tu livrarás o rancor de meus cabelos. Amansarás três vezes meus temores. Três vezes amar-te-ei para que não te canses. lembrar que é tempo de pêssegos, sim. Tanto mais tempo de ser eternidades...
Tu pousarás em mim mais uma vez. Repartirás meu silêncio e serviremo-nos em paz. Lembrar felicidade, lembrar a candura deste deus que nos criou, este das mãos setembrinas, contumaz deus das coisas pequenas. Porque amamos para o mesmo caminho - paciência, temperança, ternura - e uma coisa devagarzinha tem suas perfeições. 
Se acaso há cansaço, crio-te auroras. Pensar o riso, não pensar a dor. Pensar a sutileza dessa luz. Casar outono e primavera. Há de ser como saberemos... leve...


"Sei que tudo nosso é liberto e cheio de curiosidade do mundo inteiro, mas meu coração é seu."


Sei  

sábado, 14 de abril de 2012

Café de manhã

Tenho aqui as mãos pasmas. temos canções-delicadeza e esta tinta vermelha. e todas estas músicas que cantam você. todas estas músicas que nos conhecem. as minhas mãos pasmas. meu coração calmo. um começo. um todo retornar-se.
Tenho aqui pés flutuantes. temos convites. e vamos dançar até a carne derreter. mascar a grama. abismar-nos. você não tem pressa, eu não tenho medo. e o tempo passa.
Enquanto acordamos (há pássaros dizendo nosso nome). enquanto miramos aquele horizonte. espreguiçarrr. vem a calmaria da manhã cedinha e cheiro doce de boca.
te tenho tanto carinho. dizemos. dizemos carinho e façamos outros. os passarinhos nos espiam. deixa, deixa. Tou fazeno saudade.
Você me olha do alto, você me olha de segredo. mas eu já estou a gritar, amor. já estou a gritar.
Sentemos à beira da mesa.

sábado, 7 de abril de 2012

Mar imenso

"(...)

ó, a minha vontade é a minha liberdade!

diz-me, cala minha boca
com teus gritos em planos superiores, quero-os
como todo o pecado
com que me abençoa
como tuas páginas brancas de desespero
faça-me, para minha liberdade
tua.

(...)"



Quero que saibas que amo-te doida e desvairada. Fodam-se místicos, rituais, comedimento, circunstância, apelo, sombra de dúvida, casaco de pele. Amo-te como Olga, filhote de urso, bola de cristal, vestido de flor. Quero-te para sangrar minha carne cingida. Quero-te morder os olhos que me castigam e beber tua febre em cálice santo. Vou cantar um gozo liberto, medir-lhe as feridas, brindar e morrer. Amo-te no meio do peito. Vou fazer-te um colar de búzios para que me deites sobre. E tecer cantigas idílias. E mostrar como um corpo ama. Quero-te doida e desvairada porque há muito espero Dionísio. Sofro de amores, quero que saibas. Vou rasgar meus cabelos e me pôr nua na praça. Uma Vênus ensandecida está cá dentro a pulsar, escalavrando-me o ventre, rogo-lhe desaflição. Mas Amo-te, amo-te quente e de ranhuras em salmoura! Mergulhei no mar imenso sem tapar meus olhos e tudo arde por ti. Quero espalhar no vento minha oração de amor. Adeus aos céus. Vem deitar-se comigo no sofá buarquiano. Vamos morrer como Sierva María. Sorvendo-nos.
Amo-te. Amo-te doida. Amo-te doída. Amo-te ainda.

Imagem: de Conrad Roset