domingo, 18 de maio de 2014

Érica dos anjos

Um dia me disseram
que temos o mesmo olhar fugidio
A mesma matéria transpassa
Este teu termo suave

Abandonaste, amiga,
os barcos flutuando na praia?
A madeira úmida desfazendo-se
entre as bordas dos cais

Sofro saudades.
Quem sabe a mesma que habita
o silêncio preso nas tuas palavras.

És tão divina
e ainda teus cabelos de anjo
para encerrar esta dádiva.

Se um dia eu puder tocar uma graça que seja
Direi:
Deixa eu ser um pouco
a cabeça de nuvens de Érica dos Anjos.

domingo, 11 de maio de 2014

Das palavras que são simples

Acostumei-me a palavras simples
pois parecem encerrar tudo que
esconde-se entre a cabeça e a boca.
Se digo, por exemplo,
- já que exemplo é a palavra que
mostra antes de explicar -
Os irlandeses são tristes
qualquer um que pensa
entenderá compadecido
que não há sol em Dublin.
Se por acaso dissesse
Os portugueses são tristes
Todo mundo poderia sentir
que eles têm muita razão
Eles têm fado
e chorariam também.

Embora triste nos dois casos
não pretenda querer,
em absoluto,
dizer a mesmíssima coisa,
Fica-se satisfeito
Porque é sabido
que temos janelas na língua
Onde todos querem se sentar.

Ora, dizer triste é melhor
que dizer sorumbático
Então paramos de pedir
dicionário no jantar
e isto consiste uma paz.