segunda-feira, 1 de junho de 2015

Elogio da tristeza

"Ajusto-me a mim, não ao mundo."
Anaïs Nin


Quero chorar
Exijo o direito de chorar incessantemente
Como quem percebe estar para sempre desalinhado
Chorar até que sulcos profundos
marquem a pele de meu rosto
Que eu possa exibir orgulhosa
os estigmas de quem
não desistiu de ser triste

Quero chorar com os olhos sangrados
porque o mundo é um desgraçado
e eu também
Exijo o direito de ser irrecuperável
Posso encher a casa de espelhos
A melancolia receberá sua devida contemplação
Posso quebrar todos os relógios
para suspirar fora dos minutos

A tua razão é falsa
e cheia de egoísmo
Não tentes interromper a valsa
que teus ouvidos não alcançam
A minha dor tem a exuberância
da luz sombria que se desprende do luar
A minha dor dá-me poemas poderosos
A minha dor humilha a tua alegria

Deixa-me só
nos cantos da casa
A minha dor me basta
Quero chorar o insuportável
Deixa-me