terça-feira, 20 de junho de 2017

Quando leio uns poemas
de mil novecentos e setenta e seis,
é como se eles ali me esperassem
até o dado momento
e respiram tranquilos e alegres
- desdobram suas saias,
remontam seus leques -
Que bom que você finalmente veio

Tudo que é poesia
te dá uma certa surra na cara
Por alguns segundos, imóvel,
A alma verde de novo,
Você toca de leve a
pequena mácula no peito
e volta a ler

Agora imagine a imensa tristeza
dum livro que jamais será lido
repousado numa estante
apenas olhando as crianças
que passam correndo

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Maria contou-me hoje que
surgiu um tomateiro em sua horta
sem que ela, no entanto, houvesse plantado
Falava com tanta displicência
e clara falta de observância
que tomates se ouvidos tivessem
certamente ficariam magoados

Eu só pude levar a mão ao coração
e pensar que os milagres caídos na terra
deixam, sem cerimônia,
de ser milagres

Maria matou, sem pressa,
os tomateiros que crescem no meu pensamento.