sexta-feira, 20 de junho de 2014

Cinquenta anos

Quedo-me agora a me imaginar
aos cinquenta anos de idade,
Uns cabelos mais ralos,
Os olhos infantis
cobertos de pálpebras antigas.
Uma escrita talvez madura,
Talvez o prelúdio de um livro:
Um filho novo
de poemas muito velhos.
Penso primeiro em meu rosto.
Porque?

Tenho então dois lírios brancos nas mãos, dois lírios não terríveis.
Uma casa que é minha e um amor
que são praticamente a mesma coisa.
Ele prepara o jantar
Eu preparo o jantar, pois temos uma horta
E dormimos abraçados.
A memória deste futuro mostra-me também um arquejo
A vida é um eterno cansar-se e descansar-se
E vai o peso dos anos fazendo o descanso mais breve.
Tenho cinquenta anos e estou a olhar as pombas na beira de um lago
como quem olha o filho dormir.