sábado, 3 de março de 2018

Li coisas que escrevi em cartas e diários e senti algo que lembra saudade. Era assim: escrever é como abrir buracos negros. Depois de um tempo irei revisitar uma época acabada apenas para reencontrar-me. A escrita é a agulha que uso para a inserção no tempo. Achei preciso.

Então pensei no que eu queria mesmo, que era criar uma vaca. Ter uma casa dentro de um sítio apenas para comportá-la. Uma vaca resgatada, a única que escapou de estar prestes a incorrer no pecado de sentir as angústias da hora da morte. Imagino-a entrando pela sala, branca, gorda, primorosa, uma exímia filha de deus. O que eu queria mesmo era ser Adélia, mas nasci Helena, consolo-me.

Pronto, outro salto temporal. Estou refletindo ser breve, dar fluxo ao pensamento. O mais importante hoje é descrever o jeito como os nossos olhos se movimentam sobre as frivolidades. Então é isso, o futuro é uma vaca descansando sua mansuetude no sofá da minha casa.