segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A minha mãe terra. A minha mãe do complexo de agrião. Eu vejo as duras pedras desta árvore tortuosa. Quero chegar a nada destas silenciosas agruras. Teu marido é um bruto e não vês. Carregaste um casulo que te fizeram robustas as pernas. (E a tua cabeça, Maria?)
O sangue amarela no varal e esperas o tempo devido das coisas. O tempo inventado por teu pai (pelos homens que foram homens antes dele). O teu pai que não permitia ordenhares tuas próprias vacas. Apalpastes no escuro as tetas mornas. Esta era a tua grande rebelião.
A minha mãe chã. Levou teu pedaço de roça para uma cidade não muito cidade. Tuas mãos magoadas pelas roseiras, os dedos picados de agulha, não mais. Uma outra mulher, e não da tua tez, cuidou do teu lenço de rendas, teu cinto, teu broche, teu terço de ouro... Puseste os olhos na humildade da tua escrava?
Atinaste ensinar-me o legado e fracassas. Que as verdades são mutáveis nos tempos. O tempo que criei longe da bruteza dos homens. E não vês, minha mãe Eva, cega e petrificada, tenho na carne a grossura de teus corriões. Tenho esta briga vã de mim e do meu lugar. Mas vejo os traços da tua face na minha. E o meu espelho é minha legião de lágrimas.
Maria das Marias, volvei-me estes olhos de paciência infinita. Meu bramir sempre retornará.