domingo, 6 de agosto de 2023

 A raiva tem se manifestado. Vem e estilhaça tudo que (não) vê pela frente. Chega como um aviso grandioso: uma hora o corpo não aguenta o peso de tanto silenciamento. Você precisa dizer, você tem que dizer, afastar-se nem sempre funciona, nem sempre existe espaço. Como dizer? Como mover essa ferida primordial? Essa ferida instalada desde o nascimento. Você continua retirando as cascas, isso não é um tratamento. A dor não é para doer, a dor é para te fazer andar. Precisamos andar. Para onde? Para frente, dizem. Onde fica a frente de um círculo? Iremos andar. Andar para dentro. Ensimesmar-se. Para o ponto em que a raiva se forma, vamos desativá-la antes que ela quebre alguém. Antes que ela quebre você mesma.

A raiva é como a morte. Necessária. não a negue, mas não a busque, ela virá no tempo exato. Ela vem trajada com um vestido de fogo exuberante. Aprenda a apreciar, entretanto, não se aproxime.

Não se distraia. Permaneça quanto tempo for preciso dentro de si mesma, observe. Respire e observe. O silêncio também é violento. É uma recusa, é um tipo de desprezo. Eu sei o quanto custa não desprezar a ignorância. Mas o silêncio não pode ser a única arma. Arma? Há quanto tempo você tem oferecido apenas o silêncio para a violência do outro? Um silêncio raivoso te adoece aos poucos, um silêncio raivoso não constrói pontes. O que constrói pontes? Não sei. Sei que é preciso atravessá-las.