Joana foi quem primeiro me ensinou
que o canto dos pássaros nem sempre quer dizer alguma coisa
Olhava e nada entendia
mas era tudo lindo de morrer
Ela sentenciou-me poeta
Joana tinha mania de cerrar os dentes
E conversar com pombas que não eram Deus
Como pode um cérebro
ser tão cheio de luzes?
Ela tinha seu jeito malévolo
que só é assim descrito
porque gostamos de proparoxítonas
Joana amava-me
Tenho ainda vivas as marcas no coração
Quando ela aqui recostou-se
Um dia, passou-lhe um cavalo de fogo à rua
Perdi-a para a noite
Minha amiga alcoólica
Seu cavalo pisou-me os óculos
Nada pude saber
Pedi perdão para o vento
Parva e desmiolada
Afinal, foram mesmo minhas mãos
que deixaram meus olhos na estrada.
Vai, Joana
Célere, impávida, máxima
Talvez nunca mais retorne.
Adeus, Juju
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