quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Do verde ao concreto

Aqui não tem poça pra pisar
Não tem árvore de casca dourada
Do verde ao concreto
Só muro, asco, teto
Não tem pés argênteos
Só tapetes, ferro putrefato
Não tem bicho
Pêlo que afague mão
De mãe nem colo, só chão
Não tem pra dedo segurar cruzado
Que aperte boca
Que belisque bocado
Não tem...
Aqui não se grita
Engole-se voz
Não se pode, não se pode
O canto do vento perde-se no escarcéu
As manhãs nos vestem de sal
Um pedaço de mundo não mais que trivial
Não existem olhos vizinhos
Cuidando do que se tem
E não se tem...
Aqui não tem sorriso familiar
Só indiferença disfarçada
O tempo escapa pela fechadura
Se envilece, mas se imprescinde
Enlameia-se de hipocrisia
Arranca as páginas dos livros
Volta amiúde cheio de tudo
E o tudo pendura-se nas costas
E faz-se ficar
Aqui meus rascunhos se tecem
pelas fibras de folhas amareladas
Caídas de um tronco enegrecido
E as palavras mergulham no obscuro
Para então desaguar num rio de esquecimento
Eis o novo lar

Ellen Joyce
02/08/07

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