quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Preciso procurar urgentemente um modo de parar de culpar os meus pais

Eu não sei como parar de culpar os meus pais

O que devo fazer para parar de culpar os meus pais?

Vou chorar-lhes a morte por séculos a fio pelo fracasso amargo de nunca ter parado de culpar os meus pais

Vou morrer triste e afogada em lágrimas por não ter aprendido a parar de culpar os meus pais

Vou esmurrar os túmulos, esfolar os calos até saber o que é preciso para não culpar os meus pais.



quarta-feira, 3 de setembro de 2025

It's never over

ouço nos meus fones sem fio

cansando-me de homens que não me sabem navegar

homens que não duram nem para a literatura

preciso estar no mastro

mais altiva do que apareço nos meus poemas

atada como Ulisses 

no posto do leme

para ouvir e resistir,

resistir ao chamamento do fundo do mar

o mar é lindo, eu sei

olhe esta luz que se deita em sua pele de água 

no entanto,

ninguém pode respirar na morada das sereias

ninguém pode respirar na morada das sereias

eu não quero mais nadar contra a minha correnteza

Oh mother, I can feel the soil falling over my head



segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Há uma mulher em mim que dança 

faça chuva ou faça sol

inverno, tempestade 

para ascender leoas e cobras 

suas ferocidades

serenas fúrias

firmes amenas


Há uma mulher em mim que dança 

na cara do perigo 

no dorso da libélula 

no rabo do foguete

ao som das trombetas


Morfada em bruxa

buscando fadas

dança para além do corpo

além da memória 

para o além 


Há uma mulher em mim que dança 

para o mistério de ser pessoa

carne, chama, movimento

água, sereia e terra

Há uma mulher dançando

A mulher que dança é uma mulher que é.