sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Melinda



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Nascida do pó das estrelas
E da água dos mares
Melinda era a senhora dos vales
Seus cabelos eram caudalosas cascatas
Seus olhos duas safiras suaves
E sua pele de nuvens de prata
Os dedos açucarados desenhavam a aurora
No hálito frio habitava o vento
A boca era rubra de amoras
E suas mãos amaciavam o feno
Possuía badulaques dos mais morosos
Por todos os mortais cobiçados
Um diamante reluzente a que chamavam Lua
Um doce gigantesco a que chamavam Astro
Melinda perambulava pelo céu
Para vigiar seus pertences na Terra
Numa mão a lua cor de mel
N’outra mão a lívida esfera
Quando Melinda avistava humanos
De machados munidos e foices afiadas
Olhava, angustiada, todo o campo
Esmorecendo num pranto de gotas douradas
Chorava por noites imensas
Num desejo vil de salvar seu paraíso
Os pássaros tristes e a relva tensa
Olhavam-se tácitos de prejuízo
Melinda secara todas as lágrimas
Fazendo os dias tornarem-se ocos
As cabras caíam desalmadas
E os rouxinóis engasgavam-se roucos
As borboletas esfarelavam-se em massa
O veludo das ovelhas se enegrecia
Tornavam-se opacas as acácias
De um amargo infinito era o sabor do dia
Até que vagarosamente as flores tímidas coravam
Despertava, ainda trôpega, Melinda
A dedilhar os dedos magros sob as nuvens que acordavam
E a derramar os cabelos por sobre a terra fina
E frutificava as árvores e verdificava os pastos
E outra vez alimentava seus algozes
Mas não se cansava em seus longos passos
Dormiria tranquila nos braços da morte
E tudo voltaria ao nada
Até brotar outra vez o que chamariam vida
Mas no pó das estrelas e na água dos mares
Jazeria Melinda profunda e esquecida.


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