Para Taís Soares
Então é isso. Um outro tipo de canção começa a fazer sentido. E todas tocarão no instante mesmo em que pudermos ouvir. Tento confortar o coração de Tai, tão ou mais quebrantado quanto o meu,
but everybody knows that a broken heart is blind.
Então você começa a estipular teorias felizes porque no final as coisas vão. Você ainda respira sobre um calor ameno, o que é míngua se derreteu. Você está nova e nua. Há um sopro de ventura pelo caminho. Amar nunca será o erro.
E começa a pensar nas nuances da natureza. Porque você encerrara-se em ditos inaudíveis, mas não! A alma cura-se. O rio estanca. Nem as pedras são eternas. É lícito isso de ir-se desencantando. É livrarmo-nos do resquício. Só se vive inteiro. Preciso ainda fazê-la lembrar as obviedades: seu coração é liberto e tem substância.
Tai ainda me ouve saturar os sentidos, duas inebriadas hiperbólicas que somos. Amor só voa voo alto. Uma parte é cair.
Repito amores futuros. Isso me comeu algumas horas de pensamento. Numa esquina de livraria a gente de repente encontra-reconhece o Será que sempre foi, ou talvez o Deveria-ter-sido. E se não encontrar, ma chérie, não é mistério. Mas, por favor, não se esqueça do valor da intensidade de seus gritos. Nunca se arrepender, faço mantra se quiser. O colorido está em você. Posso vê-lo claramente.
Preciso assumir que um dia cogitei essa já constatada epifania: porque será que ninguém olhou os próprios dedos e se perguntou porque há tanto espaço entre eles? Iremos à praia. Apenas um punhado de areia na sua mão. E então, se você insistir em mantê-la, os grãos vão começar a ferir, as mágoas na pele ignoram qualquer força, a areia um dia escorre. Por entre cada um dos nossos dedos uma mácula de alívio. Fomos criados para o cíclico dos verbos. Pense nas suas mãos como dois pássaros. Se você fechar o olho, então a dança, a pureza, a menina, tudo nasce, como antes. Você pode abrir as suas mãos, Tai! Será um voo livre e perfeitamente inaudito (sim) para onde ainda há encanto.