Preciso daquela paz
que não tenho tido
pra te ler, Neruda.
Um quarto róseo azul violáceo
em que minhas rosas não cresçam
desesperadas.
Trago retinas aborrecidas
de apenas tocar
o som de tuas rimas.
Atrapalham-me
meus laços,
matricídios mal propagados.
A mãe lança-se
nas minhas pálpebras
com seu peso de mil grilhões.
Uma corola ruborosa
floresceu no meu umbigo.
As minhas cólicas - suas raízes -
deram-me olhos desleais.
Não posso ler-te.
Perdoe o agravo.
Matilde continua
pão, trigo e lua,
mesmo que eu
não a possa celebrar.
É a minha viagem,
esta transição solitária
de crescer para além do verso.
A falta de afã, a vertigem, a fé
os amores esmorecidos...
Preciso daquela paz
em que eu possa ouvir
os anjos.
Então, dar-te-ei teu sentido.
Teu louvor será maior
que uma plácida campina.
Aguardemos o outono desta rosa sangrenta.
Em segredo, teceremos sonetos matinais
de pura e opaca substância...
2 comentários:
"Trago retinas aborrecidas
de apenas tocar
o som de tuas rimas."... Ah! que lindo... lindo...
esperemos, então, Neruda, o outono...
Lindo, lindo poema de quem não se esqueceu, nem perdeu a paz, nem amor, nem poesia...
http://www.youtube.com/watch?v=kq_XK_9ENKs
Postar um comentário