quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Mañana

Preciso daquela paz
que não tenho tido
pra te ler, Neruda.
Um quarto róseo azul violáceo
em que minhas rosas não cresçam
desesperadas.
Trago retinas aborrecidas
de apenas tocar
o som de tuas rimas.

Atrapalham-me
meus laços,
matricídios mal propagados.
A mãe lança-se
nas minhas pálpebras
com seu peso de mil grilhões.

Uma corola ruborosa
floresceu no meu umbigo.
As minhas cólicas - suas raízes -
deram-me olhos desleais.

Não posso ler-te.
Perdoe o agravo.

Matilde continua
pão, trigo e lua,
mesmo que eu
não a possa celebrar.

É a minha viagem,
esta transição solitária
de crescer para além do verso.
A falta de afã, a vertigem, a fé
os amores esmorecidos...

Preciso daquela paz
em que eu possa ouvir
os anjos.
Então, dar-te-ei teu sentido.
Teu louvor será maior
que uma plácida campina.

Aguardemos o outono desta rosa sangrenta.
Em segredo, teceremos sonetos matinais
de pura e opaca substância...


2 comentários:

Zana Sampaio disse...

"Trago retinas aborrecidas
de apenas tocar
o som de tuas rimas."... Ah! que lindo... lindo...

esperemos, então, Neruda, o outono...

Guebo disse...

Lindo, lindo poema de quem não se esqueceu, nem perdeu a paz, nem amor, nem poesia...

http://www.youtube.com/watch?v=kq_XK_9ENKs