de lucidez quase obscena
na vida de uma mulher
Os pratos estão limpíssimos
e a dor que lhe atravessa
é inapelavelmente
feminina
Não há tempo para retroagir
Este momento pesa imensamente
Na madrugada de alguma cozinha
uma mulher agora pensa
que há um abismo grande demais
entre ela e o homem
que dorme
que dorme
A mulher está por um fio
o homem a olha e quase não vê
O homem pensa que
precisa ajudá-la
e só pensa
A mulher percebe então que
embora os braços já estejam dormentes
precisa erguer-se sozinha
Ela ainda não sabe, mas
encontrará outras mulheres
Muito também acordadas
encontrará outras mulheres
Muito também acordadas
Neste lado de cá do abismo