Escrevo este poema para deixar registradas as lições de bell hooks sobre o amor.
É isto que me encanta e mais me interessa nessa fase da vida, em que tudo está voltado para me reerguer, em que há o chamamento imperioso de ser eu, é isto a que me dedico, e apuro os ouvidos quando vejo passar: o amor, sua substância, o vértice da felicidade humana.
Amar é fazer, amar é ação, amar é escolha.
Carinho e afeição são outras instâncias, derivados do amor.
Abuso e amor não coexistem.
Ou seja - e isso é de uma dureza quase indizível -
a minha mãe não me amou
Não a ensinaram - amor se aprende -, deturparam seus caminhos, a cultura, seus pais, seu marido.
Amar é deixar que cresça o espírito, em sentidos mais amplos que não os puramente religiosos.
A minha mãe não me amou.
Posso dizê-lo.
E isso não a torna uma mãe terrível. É libertador compreender a inexistência de instinto materno, a ausência da obrigação amorosa de uma mãe para com um filho. Amor se constrói, com vínculo, honestidade e compromisso.
A imprescindível verdade que preciso ter comigo mesma me faz enxergar, pela primeira vez, que minha mãe não tinha obrigação alguma de me amar. Embora tenha tentado de todas as maneiras viáveis.
Preciso da constatação que agora me surge para seguir adiante, não será necessário perseguir aquilo que não obtive na infância. Minha mãe não teve recursos para ir além da curva, suas raízes não encontraram espaço para firmar sombra mais larga. Não. Era impossível, seu pai ordenava que as crianças não chorassem, enquanto a mãe ninava-as no chão duro das noites intermináveis da roça, tapando-lhes a boca para que não acordassem o homem. A minha mãe nunca foi respeitada enquanto pessoa, nada estava a seu favor, ela é como o que sucedeu à minha amiga Joana, apenas o resultado de simples e complexas equações.
Eu não. Eu tenho tudo sobre o amor. Eu pari uma criança em casa, eu me divorciei de um narcisista, eu sou poeta, tenho copa de flores vivas, sombra até bastar, tenho um mar de paciência para Serena se banhar. Eu sou diferente da minha mãe. Não melhor, apenas um tanto diferente. Eu não estou somente fora da curva, eu a desenhei com meus próprios punhos.
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