"O homem é um animal reincidente no erro, e que se nutre de metáforas"
Murilo Mendes - A Idade do Serrote
Cortarei os fios da vaidade
Para o plantio de hibiscos
Cultivar-los-ei pernoitemente
E quando florescerem
Terei todos os homens do mundo
Pois a beleza salvará o mundo
O belo, o bem
Salvarão o mundo
Os brotos de begônia cristalizados
Erguerão elefantes
E terei todos
Serei tudo
Pois a beleza salvará o mundo
Terei-lhes por debaixo
De meus cabelos de narciso
Terei todos os homens do mundo
Altivos, sedosos
Meu cesto de hibiscos
Arrastarei por sobre a terra
Pois a beleza salvará o mundo
O belo, o bem
Salvarão o mundo
Pueril ou etérea
Ou crédula e parva
Mastigarei todo verde
Enormes vezes por segundo
A seiva de minhas folhas
Prolificará urzes benfazejas
Pois a beleza salvará o mundo
O belo, o bem
Salvarão o mundo
E açoitada ou estéril ou cega
Rasgarei em meus lábios
Sorrisos encarnados
Pois a beleza salvará o mundo
Cometerei vastos poemas
Desposarei todos os amantes
Terei cansados os meus anelares
Abandonarei pegadas profundas
Repousarei em campos diáfanos
E pelas metáforas e fábulas
Salvarei todos os homens do mundo