sábado, 27 de julho de 2013

A mãe é uma casa

O tempo em que uma criança mama é um tempo de conjugar. Uma transição dolorosa, mas cheia de esplendor. Uma maneira de prolongar cordões rupturados, a forma primeira de amor e enlevo.

Minha mãe amamentou-me por quatro anos. Ela me chamava, eu fazia meu ninho, e chupava os mamilos sem leite, porque era tudo que sabia fazer. Depois eu cantava as músicas da escola - encontrei uma casinha enfeitada de cupim - ela não queria perder o que havia para além do peito. Eu era fácil de ser lida, era calma e sem grandes medos.

Mas um dia, meu pai começou a debochar aquele ritual arrastado, aquela insistência e recusa. Eu me lembro apenas de ouvir palavras meio imodestas, como 'mocinha'. E não poderei precisar se minha atitude foi irrefletida, se eco, se culpa, se tédio, se medo crescendo...
Então, numa tarde, naquele quarto, eu disse não a minha mãe, um não que fez a primeira fresta na nossa casa, a primeira rachadura, a primeira partida. E ela chorou baixinho as antigas lágrimas de mãe, e mostrou sua tristeza apenas para os seus santos rosários.

Nenhum comentário: