domingo, 22 de dezembro de 2024

Moro num país de terras quentes. Cresci entre o cerrado e a lonjura do mar, na mágica Bahia. Anuncia-se hoje a chegada do verão e as pessoas procuram se despir da dura casca que lhes oprimia os desejos. O verão é um convite para uma vida mais vermelha. Mas eu não posso fazer parte disso. Não posso agora rir de uma vida desgraçada que se arrastou pelo ano, porque não a tive. Não posso finalmente retirar o sutiã para respirar, porque, esse ano, nada me prendeu. Eu não posso me despedir de uma dureza que não esteve comigo. Eu fui verão o ano todo. 

Dizem que os bons sentimentos não produzem bons poemas. E eu lhes digo que cada poema estará impregnado do sumo da alma de cada poeta, todos têm seu sabor. Essa é a beleza. Eu só posso entregar-lhes poemas doces, morangos pelos campos, pêssegos aveludados, mangueiras carregadas, maçãs banhadas de luz, é assim que me sinto. No meu país, não anseio pela chegada do verão, porque fiz do meu coração um sol. Quando chove, fico a olhar o arco-íris.

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