quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ouve, Rute

Ouve, Rute, apenas ouve e lembra-te do grande olho estriado que pende do teto do mundo – mistério gozoso que inunda grosso o charco do corpo estortegado e retorna incólume ao seu lugar nenhum.  Sede paciente, Rute, e ouve do olho espiralado o silêncio do seu nome que desaba sobre os tetos das casas vazias, inundando pegajoso as telhas para pingar – pouco a pouco a pouco – no chão cru do de dentro. Volve à olaria do teu pai e indaga ao barro marcado, abocanha a consoantes e vogais, enterra em teu ventre todos os sons e ainda assim não vais parir o nome do olho inamovível.
Acalma-te, parva Rute, e ouve tudo o que é inominável – inútil inquietar-se tanto, tu não te moves de ti -, apenas ouve e lembra-te do grande olho.

Joana Castro




Imagem: Capa de P•U•L•S•E - Pink Floyd

3 comentários:

Nina. disse...

ai ai esse povo de letras que acha que escreve. abomino essa raça. vão arrumar emprego !!!

Ellen Joyce disse...

Seu emprego vai ser qual mesmo, ninha? (espírito Joana falando)

Unknown disse...

Sinta-se processada. ¬¬