Milord, que queres de mim, afinal? Posso confessar-te outra vez. Hoje tenho dores enraizadas a meu ventre, estive curvada, nem posso atender-te, as minhas regras, tão irregulares, te fizeram armadilha.
Primeiro minha linguagem se estende em demasiadas palavras, entorno-as em nossas taças, e tu brindas encantado... e por fim? Não viste o desperdício deste palavrório? Milord, palavras são sacos vazios, achaste-me mesmo tão substanciosa? Já não ouviste de perto o enigma dos poetas?
Desde então, a minha vista quer recair-se sobre teus olhos. Não! Eu só quero olhar-me a mim própria. E se em tua retina houver-me o segredo? Dilatar-me-ei esfinge desvendada.
Depois de ti, os espelhos da minha casa, longamente, abrem e fecham as pálpebras. Não tens receio de invadir disfarçado meu quarto? Meus reflexos tornaram-se miragem, assusto-me, procuro tocar-me a verdade, mas entre meus dedos se esvai um resto fantasmagórico. És tu que me observas talvez deveras diversa de meu ser. Este jogo de olhares avessos é um fascínio perigoso, como todo fascínio.
E penso que tu queres, sorrateiramente, escalar o verso que se desprende da minha boca.
Tu queres, Milord?