sábado, 18 de dezembro de 2010

Tu que me olhas

Milord, que queres de mim, afinal? Posso confessar-te outra vez. Hoje tenho dores enraizadas a meu ventre, estive curvada, nem posso atender-te, as minhas regras, tão irregulares, te fizeram armadilha.

Primeiro minha linguagem se estende em demasiadas palavras, entorno-as em nossas taças, e tu brindas encantado... e por fim? Não viste o desperdício deste palavrório? Milord, palavras são sacos vazios, achaste-me mesmo tão substanciosa? Já não ouviste de perto o enigma dos poetas?

Desde então, a minha vista quer recair-se sobre teus olhos. Não! Eu só quero olhar-me a mim própria. E se em tua retina houver-me o segredo? Dilatar-me-ei esfinge desvendada.

Depois de ti, os espelhos da minha casa, longamente, abrem e fecham as pálpebras. Não tens receio de invadir disfarçado meu quarto? Meus reflexos tornaram-se miragem, assusto-me, procuro tocar-me a verdade, mas entre meus dedos se esvai um resto fantasmagórico. És tu que me observas talvez deveras diversa de meu ser. Este jogo de olhares avessos é um fascínio perigoso, como todo fascínio.
E penso que tu queres, sorrateiramente, escalar o verso que se desprende da minha boca.
Tu queres, Milord?

8 comentários:

Faprie disse...

Oi Joice!
Gosto muito do teu trabalho. Aqui é Francine, tua colega de letras (rs). Gostaria que seguisse meu blog (rs), http://otangodebaudelaire.blogspot.com/ e http://tangoscombaudelaire.blogspot.com/(o último tem as novas postagens).
Beijos

Reticências disse...

Como possível não?
rs

Anônimo disse...

Por vezes, embriagamo-nos com as palavras, que possuem sim a sua própria força e eloquencia, mas não aquela que os sentimentos trazem junto ao silencio. E é nesse silencio, que os seres humanos se conhecem, contemplando a si próprios descobrem os outros de maneira tão vasta e real que nem mesmo se lessem todos os livros, ou mantivessem dialogos e discussões intermináveis uns com os outros descobririam.

Seu texto é um mergulho bem profundo para o fundo de todos.

Um abraço e afeto!

Neldus disse...

Agora compreendo perfeitamente o tal limo que, outrora, escorria de teu útero.

NAPEA - Ifbaiano Campus Santa Inês disse...

O convite se faz após a casa e o peito invadidos e os olhos espelham-se, enlaçado, no querer.

nina rizzi disse...

menina, seu blogue é lindo. tive algo epifânico aqui. meus sentidus tudus vibram, que maravilha! :)

hoje, ellenizamos, ellen. e parece que nunca antes tanto. deve ser o nome.

um beijo :)

Fred Caju disse...

Muito bom. Gostei da linguagem e da clareza. Voltarei mais!

Saulo Moreira disse...

Sinto falta de Joyce Ellen.