Já hoje se tem três dias feitos
que nunca recebo carta sua
Verti quatrocentas e duras lágrimas
Parece que tenho a mãe morta
Parece que Matilde veio e me disse
que se quebrou meu porquinho australiano
Tenho desejos de matar Matilde
ás vezes
Voltei-me a lavar os pratos
até ter sangue nas mãos
Mas a louça nunca curou
amores de não amar-se
Comecei a quebrar os pratos
pra ver Matilde chorar
Três dias
a minha andorinha longe
Vejo não aguentar
Matilde caçoa minhas dores
Maldita seja Matilde!
Quarto dia
Tenho febre
A Saudade pesa seus sem-sentidos
Tenho urgências semânticas
você nunca chega
Te chamo bastardo!
Matilde...
Matilde se dane
Troquei minha saia puída
(desde o dia em que você partiu)
Pus presilha no cabelo
Bati à porta do Correio
(O silêncio mói meu coração)
O CARTEIRO ESTÁ MORTO?
Glória, senhor!
Tenho vida!
Dê cá minhas cartinhas.
3 comentários:
Fantástico. Fico impressionado com algumas coisas por aqui, sempre eu acho... seu jeito manso pra com as coisas, jeito de contar histórias, sua sensibilidade latente, caricaturas delicadas de um cotidiano tão naturalmente sentido como aceitado sem reagir às suas intempéries... você é fantástica.
Esse é o vigésimo primeiro poema de amor ou o prenúncio da "Cancion desesperada"
belissímos!!! Sofro exatamente disso... "tenho urgências semânticas"... e uma saudade patológica!
Postar um comentário