Costuma-se não acreditar na existência de escritores de bestsellers. Eu acredito na existência de fazedores de bestsellers. Existe uma condição definidora da essência da obra de arte: a intenção. Se um homem visa dinheiro e pensa que é regido pela vocação 'escrever', usando de toda a potencialidade de sua inteligência, ele buscará os melhores artifícios para fazer um livro. Este homem produzirá um bestseller. Um produto "vendável", como se sabe, precisa ser construído com uma linguagem de fácil apreensão e mais alguns elementos de obviedade. Tem por finalidade entreter, distrair, suavizar as tragédias cotidianas, fazer esquecer, emocionar. Traz um enredo estilisticamente imbricado e sem profundidades, porque profundidade cansa o leitor. MAS. Se um homem é movido por uma estranha necessidade de expôr a própria subjetividade, fazendo-o com primor, ele é um artista. A depender do contexto, ele tem plena consciência de que não poderá exercer exclusivamente esse ofício. Poderá vender bananas ou se tornar farmacêutico, pois o homem vive primeiro de pão.
Dizer-se que fulano é um péssimo escritor é o mesmo que dizer que fulano não é um escritor. Dizer-se "escritor excelente" constitui uma redundância. Sabe-se da ocorrência de muitos que foram execrados em sua época. Trata-se de excentricidade mal compreendida, o conhecido fenômeno do homem-fora-de-seu-tempo. Estes seres são os únicos a quem podemos chamar imortais sem a cautela dos indecisos. Do outro lado encontram-se os rechaçados por conhecimento de causa. Para certos fazedores não há escapatória. Os entendedores percebem facilmente a tentativa fajuta de domínio da linguagem. Fazedores não sabem desvirtuar clichês, pelo contrário, agarram-se a eles. Copiam porque é simples e por não terem assimilado as ideias do antropofagismo. Um fazedor jamais poderá entender o conceito de 'difícil', ele repudia-o, pois todos têm medo daquilo que não conhecem. Essa é a categoria dos espertos.
A grande diferença entre o escritor e o fazedor é que o escritor é justo com seus leitores, exige-lhes o máximo, não subestima-lhes. Há uma relação de interdependência que mais tarde acaba no total aniquilamento do escritor, quando isso acontece, ele precisa aceitar porque no final tudo acaba bem. O verdadeiro escritor sonha com o nascimento universal de um sétimo sentido: a percepção para a invisibilidade da beleza contida nas coisas. Essa é a categoria dos honestos.
A diferença definitiva é que o escritor deseja secretamente que um dia expurgação dos sentimentos íntimos valha milhões, por isso ele é um ingênuo, quer alimentar o povo sem que o povo lhe estenda as mãos. Um pedante, um incomum. O fazedor ama a banalidade. Não se culpa pela alienação das pessoas. Quem o culparia?
O fazedor acha bonito escrever. O escritor acha sublime, por isso sofre.
O fazedor é como o ganso criado por homens que pensa ser homem. O escritor é como a flor que nasceu nas pedras: destoa e seu fardo é imenso.
3 comentários:
Excelente a última metáfora.
Ah minha bela poetisa... Levantastes um ótimo ponto: quase não temos mais escritores, os que tinhamos, estão sendo esquecidos, repudiados, taxados como enfadonhos... Poxa, não aguentos mais livros de prateleira! Livro bom mesmo é aquele que não tiramos da bolsa ou da cabeça, são aqueles que ficamos dias tentando entender o primeiro capitulo.
Ah, que sorte triste
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