domingo, 27 de dezembro de 2020

O rasgo na face de Deus virou cicatriz
Espantei os pombos com gestos efusivos
Na verdade, fiz que Ele não existisse
Porque te levou do mundo
Era já um fio de neblina
Certa bobagem
que agora desapareceu

O que existe 
pesado como filho grande
é tua saudade.
Tua viva lembrança nas minhas palavras
e cartas que não receberei

Te mando um bordado
de Torto arado
Você deveria ler!
É lindíssimo...

Mas é tarde.
É mais uma das minhas tolices.

Penso comigo se a terra em que teu corpo descansa já está lavrada.
Que bichos andaram sobre ela?
Que plantas cresceram?
Seres tão indiferentes 
ao medo que dorme nas dobras do tempo.
A quem farei perguntas descabidas?

Você é, mais do que nunca, 
a bruta flor trepada aos portais 
que levam a lugar algum.

Estão novamente repousados no parapeito sete pombos furta-cor.
Sinto que a ferida divina se abre por dentro
Pois ainda sangra e ninguém vê.
 

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