terça-feira, 25 de agosto de 2015

Pego o coração com a mão

Há dias em que
pego o coração com a mão
e ele está quase sumindo

Basta que sejam as flores pequenininhas
arrumadas muito singelas
no bolso do terno de algum velhinho
cujas rugas adornam dois cristais ainda ingênuos

Basta que seja a vontade
de uma moça fotógrafa
de olhar novamente para um animal
no caminho do sacrifício
e afagá-lo pela última vez

Basta que seja uma noiva recém abandonada
posta no meio da praça
a catar pedrinhas sem nenhuma importância
e um suspiro de alívio nos lábios

Basta que seja uma canção
que dizemos divina
por faltar palavras bastantes
ecoar de um lugar tão distante
como a própria imaginação

Ou mesmo a luta entre um peixe e um homem
que tem todos os dedos cortados de anzol
e fome

Basta ainda que seja uma criança nascendo
por entre espumas e pétalas de rosas
a olhar, através da água,
o mundo pela primeira vez

Ou - muito menos -
a chuva brilhando um arco-íris
através da luz do dia

Examino com delicadeza
um coração cansado de comover-se
lavo-lhe as mágoas
no rio que corre em nossa casa
Amanhã, outra fibra irá se despetalar

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